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Mudra Yoga: Significado e Simbolismo

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Este artigo é sobre o mudra. Saiba o que são mudras, a sua origem e o significado ao longo do tempo. O texto refere a importância desta técnica e a sua ligação, mais recente, com os chakras. 

Ao longo do texto utilizamos as palavras “mudra” e “chakra”, na forma mais simples sem os diacríticos, considerando o leitor comum, não especialista em sânscrito, em vez de mudrā e cakra. No entanto, consulte o nosso glossário de yoga, se tem dúvidas sobre os significados das palavras prāṇa, haṭha, prāṇāyāma e outras.

Índice do conteúdo

O que é o yoga mudra?

Mudra é um gesto simbólico realizado com as mãos, com a cabeça, com partes ou com todo o corpo, que tem um profundo significado energético, no contexto do yoga e da meditação. Derivado do sânscrito, a palavra “mudrā” significa “selo”, e os textos medievais de Haṭha yoga associam a técnica a efeitos específicos no corpo e na mente. A técnica tem por objetivo para canalizar a energia vital (prāṇa), promover a tranquilidade interna e amplificar estados de consciência.

Existem diferentes tipos de mudras. O gyan, por exemplo, simboliza o conhecimento. Junta-se a ponta do polegar com a ponta do dedo indicador. O añjali representa a saudação e a devoção, com as palmas das mãos juntas no centro do peito. A prática regular promove a concentração e o equilíbrio das emoções. No yoga, os mudras combinam frequentemente com as técnicas de respiração (prāṇāyāma) e posturas (āsana), para aumentar a concentração e o foco.

Origem e significado do yoga mudra

Os mudras surgiram na civilização indiana e foram utilizados em práticas religiosas e espirituais. Existem referências aos mudras nos textos do hinduísmo e do budismo. Eles foram Inicialmente associados a rituais, e mais tarde às danças indianas. Estas técnicas foram incorporados no yoga como ferramentas para canalizar a energia vital e alcançar estados elevados de consciência.

Conforme referido, a palavra “mudrā” tem origem no sânscrito e significa “selo”. A técnica tem o propósito de canalizar e direcionar a energia vital (prāṇa) no corpo subtil. Esses gestos são de certa forma performativos, e alguns praticantes referem que ajudam na concentração e promovem maior introspeção. Cada mudra possui um significado específico.

Além disso, no contexto do Tantrismo, a palavra significa a participação feminina no ato sexual – maithuna –, e grão seco, no contexto do pañcamakara, o ritual dos 5Ms do Tantra (cinco práticas cujo nome começa pela letra M).

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Conhecias estas técnicas do Tantra?x

No entanto, para os Haṭha yoguis da ordem dos Kānphaṭa, a palavra referia-se aos brincos utilizados nas orelhas pelos adeptos dessa tradição (1).   

Mudra no Haṭhayoga

No contexto do Haṭhayoga, enquanto prática sistematizada, a primeira ocorrência da palavra mudra é no manual Dattātreyayogaśāstra, um texto do século XIII. Aqui o objetivo dessa prática era permitir a entrada da respiração no canal central e controlar o bindu (sémen).  No entanto, alguns dos mudras do Dattātreyayogaśāstra constam no texto Amṛtasiddhi (2).

Além disso, anterior aos dois textos referidos, existiam mudras de diferentes tipos, a partir do século VI d.C., no ritual tântrico. Neste contexto, os mudrās não serviam para manipular a energia subtil, mas, através do ritual, eram para obter poderes sobrenaturais. Nenhum dos mudra do haṭha yoga aparece nos textos tântricos anteriores à literatura Haṭha. Contudo, existiam técnicas semelhantes no tempo de Buda, pelo menos o khecarīmudrā. 

Os textos Amṛtasiddhi e Dattātreyayogaśāstra não relacionam mudra com chakras, nem com a serpente-energia kuṇḍalinī. No entanto, textos posteriores, como o Vivekamārtaṇḍa, associam a técnica a efeitos na energia kuṇḍalinī (2).

mudra yoga do hatha yoga

Cinco tipos de mudra no Haṭhayoga

  1. Hasta: praticados com as mãos. Exemplos: jñāna, chin, yoni, bhairava, añjali.
  2. Mana: efetuados com a cabeça. Podem utilizar os olhos, nariz, língua, lábios. Exemplos: Śāmbhavī, nāsikāgra, khecarī.
  3. Kaya: posturais. Estas práticas utilizam posturas físicas combinadas com respiração e concentração. Exemplos: Viparītakaraṇī, prana, yoga.
  4. Bandha: mudras de contração. Exemplos: Maha, maha bheda, maha vedha.
  5. Adhara: perineais. Exemplo: Vajrolī, ashwini.

Versos do Haṭhayogapradīpikā

Capítulo 3

Verso 6
Maha mudra, maha bandha, maha vedha, khechari, uddiyana, moola bandha e jalandhara bandha.

Verso 7
Vipareeta karani mudra, vajroli e shakti chalana são os dez mudrās que destrõem o envelhecimento e a morte.

Verso 9
Estes devem permanecer em segredo como pedras preciosas e não serem divulgados a ninguém, assim como alguém não diz aos outros sobre as intimidades com a sua esposa.

Importância do mudra na prática de yoga

O mudra desempenhou um papel relevante na prática do yoga medieval, pois acreditava-se que ajuda a canalizar e a direcionar a energia vital de maneira eficaz. Ao realizar esses gestos simbólicos com as mãos, os praticantes podiam influenciar o fluxo energético no corpo, promovendo o equilíbrio e a harmonia interna. Além disso, estas técnicas serviam para intensificar a concentração e acalmar a mente. E também podiam ser praticados em conjunto com outras técnicas: posturas (āsana) e exercícios de respiração consciente (prāṇāyāma).

Contudo, alguns manuais medievais referem que os mudras têm efeitos terapêuticos. Portanto, eles eram essenciais para o Haṭhayoga medieval. Além disso, o Capítulo 3 do texto Haṭhayogapradīpikā, um dos manuais mais importantes da tradição Haṭha, refere 10 mudras, e o Gheraṇḍasaṁhitā descreve 25.

Significados e ligação com os chakras

Interpretações e simbolismo contemporâneo

O simbolismo destas técnicas está profundamente enraizado nas tradições espirituais e culturais indianas, refletindo um vasto campo de significados e propósitos. No yoga, os mudras são mais do que simples gestos; são ferramentas poderosas para a transformação interna e a conexão espiritual. Cada mudra possui um simbolismo específico com o objetivo de desbloquear e direcionar a energia vital (prāṇa) no corpo e na mente.

Por exemplo, o gyan, união do polegar com o indicador, simboliza o conhecimento e a sabedoria. Este mudra é associado ao aumento da concentração. Outro exemplo é o añjali, onde se juntam as palmas das mãos em frente ao coração, simbolizando a saudação e a união entre o divino e o humano. Este gesto é frequentemente utilizado em práticas de gratidão e de meditação, promovendo um estado de paz no início e/ou no final de uma aula de yoga.

Além do seu simbolismo espiritual, há quem associe o mudra a significados terapêuticos, uma reconstrução Nova Era. Assim, inventa-se que cada gesto é pensado para estimular áreas específicas do cérebro e do corpo, ajudando a aliviar tensões, a reduzir o stresse e a equilibrar as emoções. Por exemplo, o apana, que envolve a união dos dedos médio e anelar com o polegar, é conhecido pelos seus (supostos) efeitos desintoxicantes e calmantes. A verdade, no entanto, é que esses efeitos terapêuticos não são suportados pela evidência científica.

chakras e mudra

Relação com os chakras

Já vimos atrás que o texto Vivekamārtaṇḍa associa a prática de mudra com estruturas do corpo subtil, nomeadamente a kuṇḍalinī. Nos dias de hoje, contudo, os adeptos acreditam que os mudras e os chakras estão intimamente relacionados, com o argumento de que ambos trabalham com a energia vital que flui pelo corpo. Os chakras são centros de energia localizados ao longo da coluna vertebral, e acredita-se que estão associados a diferentes aspetos físicos, emocionais e espirituais. Existem sete chakras principais, que vão da base da coluna até ao topo da cabeça.

Por conseguinte, muitos adeptos do yoga Contemporâneo acreditam que estas técnicas atuam como ferramentas para desbloquear e equilibrar esses centros de energia. Por exemplo, o muladhara mudra é utilizado para ativar e equilibrar o chakra raiz (mūlādhāra), associado à sensação de segurança e estabilidade. Já o vishuddha mudra trabalha com o chakra da garganta (viśuddha), e promove a comunicação e a expressão.

Ao praticar a técnica, os yogues e as yoginis Contemporâneas acreditam que podem direcionar a energia para chakras específicos, facilitando processos de cura e de equilíbrio. Além disso, acredita-se que cada mudra tem uma vibração única que ressoa com um chakra particular, ajudando a libertar bloqueios e a harmonizar o fluxo de energia. Outra crença Nova Era é a que combina mudras e meditação nos chakras para amplificar os benefícios da prática, nomeadamente o bem-estar integral e uma ligação mais profunda entre corpo, mente e espírito.

Benefícios do yoga mudra

Pelo que sabemos, ao dia de hoje, não existe evidência científica sobre benefícios do mudra. Por conseguinte, as descrições abaixo situam-se no domínio da crença.

Assim, acredita-se que o yoga mudra oferece uma variedade de benefícios que impacta positivamente o corpo, a mente e o espírito. Esses gestos simbólicos, nomeadamente aqueles que são praticados com as mãos, são utilizados para canalizar a energia vital e promover o equilíbrio interno.

Um dos principais (e populares) benefícios é o aumento da concentração e da clareza mental. Práticas como o gyan, ajudam a focar a mente, tornando a meditação mais eficaz. Além disso, acredita-se que os mudras podem aliviar o stresse e a ansiedade, proporcionando um estado de calma e de paz interior. O apana mudra, por exemplo, é conhecido pelas suas (supostas) propriedades relaxantes e desintoxicantes.

Acredita-se, no entanto, que os mudras podem influenciar positivamente a saúde. Eles ajudam a equilibrar os cinco elementos do corpo (terra, água, fogo, ar e éter), que são essenciais para o bem-estar. O prithvi mudra, que representa o elemento terra, pode fortalecer os ossos e promover o crescimento dos tecidos.

Mudra como elemento performativo

Por último, parece-nos que, no yoga Contemporâneo, os mudras podem ser vistos como elementos estéticos que enriquecem a performance (desempenho) das aulas posturais. Eles adicionam graça, profundidade e dificuldade técnica, à execução postural, criando uma expressão visual harmoniosa e significativa. Nas aulas e representações de yoga, sejam internas ou para consumo externo do público/redes sociais, os mudras são elementos que transmitem mensagens, incluindo certas emoções. Isto realça a ligação entre o corpo do praticante, a tradição de yoga e o espaço sociocultural.

A beleza dos gestos, durante a execução da técnica, contribui para uma prática de yoga mais envolvente e inspiradora, e combina arte, estética e performance. Estes elementos são novos no yoga, e operam sincretismos e mudanças no desempenho das práticas Contemporanêas, cada vez mais próximas das Artes Performativas.

Bibliografia

(1) Feuerstein, G. (1997). The Shambhala Encyclopedia of Yoga, p.188. Shambhala Publications.

(2) Mallinson, J. e Singleton, M. (2017). Roots of Yoga, pp. 228-232. Penguin Classics.

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