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Luto e Saúde Mental

Este artigo aborda a relação entre o luto e a saúde mental e a maneira como as técnicas do yoga podem ajudar a processar a dor e a tristeza associadas à perda de um ente querido.

O que é o luto?

O luto é uma experiência emocional complexa que ocorre em resposta à perda de algo ou de alguém significativo, como a morte de um ente querido, o fim de um relacionamento ou a perda de um emprego. Assim, é importante percebermos que esta experiência não se restringe apenas à morte de uma pessoa; ela pode manifestar-se face a várias formas de perda.

O processo de luto é único para cada um de nós e pode envolver uma ampla gama de emoções, como a tristeza profunda, a raiva, a culpa, bem como a confusão e até o alívio, especialmente em casos de perdas complexas.

Índice do Artigo

Relação entre luto e saúde mental

A relação entre o luto e a saúde mental é significativa, pois o processo de lidar com a perda pode ter impactos profundos no bem-estar psicológico e emocional de uma pessoa. O processo do luto pode afetar a saúde mental de várias formas:

Cada pessoa lida com a perda de uma maneira única, e não há uma maneira “correta” de sentir ou de passar por este processo. Além disso, alguns indivíduos sentem-se avassalados pela tristeza e pela dor, enquanto outros alternam entre momentos de emoção intensa e períodos de aparente normalidade, ou seja, cada caso é um caso e as reações são individuais.

O luto manifesta-se de várias maneiras, incluindo sintomas físicos, emocionais, cognitivos, bem como comportamentais. Isto pode incluir insónias, perda de apetite, sentimentos de desespero, dificuldades de concentração, irritabilidade, isolamento social, entre outros.

luto e saúde mental nos adolescentes

Diferenças de sexo

A diferença entre o luto em função dos sexos está bem estudada. Se considerarmos o impacto do nível de stress causado entre homens e mulheres, existe evidência que os homens sofrem mais (Stroebe, 2001).

Os homens parecem fazer um luto mais instrumental, abordando a perda de uma forma física ou cognitiva. Já as mulheres tendem a ser mais intuitivas, abordando a perda de uma forma mais afetiva. Uma das razões pode ser que as mulheres podem sofrer de uma forma diferente e ter resultados de luto diferentes porque recebem mais apoio social do que os homens (Worden, 2018).

Os homens experienciam a viuvez como um evento mais angustiante que as mulheres. Contudo, esta situação só se verifica para aqueles que são viúvos há muito tempo. Em relação às mulheres não se verificam diferenças no nível de depressão entre aquelas que são viúvas há pelo menos quatro anos. As diferentes tensões ou ramificações provocadas pela viuvez entre homens e mulheres, podem produzir diferentes significados para ambos, talvez como resultado à tradicional divisão de papéis no casamento (Grootheest et. al., 1999).

Existe evidência de diferenças de género no tipo de intervenção considerada eficaz. Os homens respondem melhor às intervenções que estimulam o afeto e as mulheres às intervenções de resolução de problemas. Contudo, as intervenções parecem ser o oposto dos estilos típicos de género (Worden, 2018).

Luto prolongado ou complicado

O processo de luto não segue um cronograma fixo. Assim, algumas pessoas recuperam mais rapidamente, enquanto outras podem levar anos no ajuste à perda. A intensidade dos sentimentos varia ao longo do tempo, com momentos em que a dor é mais aguda e outros em que é mais suportável.

O luto prolongado, também conhecido como luto complicado, refere-se a um processo que se estende por um período significativamente mais longo do que o esperado, com intensidade e persistência de sintomas que interferem nas atividades diárias e no bem-estar emocional da pessoa (APA, 2022). Ainda mais, pode levar a problemas de saúde mental, como a depressão, a ansiedade, o abuso de substâncias ou a perturbação de stress pós-traumático (PSPT).

É importante estarmos atentos a sinais de que o processo de luto está a impactar negativamente a saúde mental e procurarmos ajuda profissional quando é necessário.

O apoio de amigos, familiares e de profissionais de saúde mental desempenha um papel crucial. Bem como ter um espaço seguro para expressar as emoções, compartilhar memórias e receber orientação pode ajudar a navegar por este período tão desafiador.

Durante o luto, é importante praticar o autocuidado, o que pode incluir cuidar da saúde física, manter rotinas diárias sempre que for possível. Podemos procurar atividades que proporcionem conforto e expressar emoções de maneira saudável, seja por meio da escrita, da arte, da terapia ou outras formas como através da prática de yoga

Ainda assim, é fundamental compreender que o luto faz parte da experiência humana e que não há prazos definidos para o superar. Cada um de nós precisa de espaço, de compreensão e de apoio adequado para enfrentar este processo e preservarmos a saúde mental da melhor forma possível.

Estratégias de apoio do luto

Lidar com a perda de um familiar, uma amiga ou até um animal de estimação é uma experiência emocionalmente desafiadora e dolorosa. No entanto, existem algumas estratégias e práticas que podem ajudar a lidar com a perda de algo ou de alguém importante:

  1. Permitir sentir: É importante reconhecer e aceitar as emoções durante o luto. Podemos sentir tristeza profunda, raiva, culpa, confusão, entre outras emoções. Além disso, devemos permitirmo-nos sentir estas emoções sem julgamento e saber que é normal passar por uma variedade de sentimentos durante todo o processo.
  2. Compartilhar a dor: Encontrar apoio em amigos próximos, em familiares ou em grupos de apoio que possam entender e compartilhar a dor. Ainda mais, conversar sobre o ente querido, compartilhar memórias e expressar as emoções pode ser terapeuticamente benéfico.
  3. Honrar a memória: Encontrar maneiras significativas de homenagear e lembrar o ente querido. Isto pode incluir criar um álbum de memórias, escrever uma carta, plantar uma árvore na sua memória ou participar em eventos de caridade ou causas que eram importantes para o ente querido.
  4. Cuidar de nós próprios: Por outras palavras, é fundamental praticarmos o autocuidado. Certificar que cuidamos da saúde física, comer bem, fazer exercícios e descansar adequadamente. Além disso, podemos reservar tempo para atividades que tragam conforto e paz, como meditação, o yoga, caminhadas na natureza, leitura ou qualquer hobby que traga harmonia e alegria.
  5. Procurar apoio profissional: Se sentirmos que o luto está a afetar significativamente a saúde mental e emocional, considerar procurar apoio de um profissional de saúde mental, como um psicólogo. Eles oferecem orientação, apoio e, ainda mais, ensinam estratégias para lidar com a dor e a tristeza de uma maneira saudável.

O yoga e o luto

O yoga é uma prática milenar que combina exercícios físicos, técnicas de respiração, meditação e filosofia para promover o equilíbrio e a harmonia entre corpo, mente e espírito. Quando se trata de lidar com o luto, o yoga pode desempenhar um papel significativo no processo de cura e na promoção do bem-estar mental e emocional. Saiba mais sobre esta prática antiga no nosso dicionário de yoga.

Contudo, é importante ter a consciência que o yoga não substitui a terapia ou o apoio psicológico profissional, especialmente em casos de luto complicado ou prolongado. No entanto, pode ser uma ferramenta complementar importante para promover o autocuidado, a autorreflexão e o bem-estar durante o processo de luto.

Algumas maneiras pelas quais o yoga pode ajudar:

  1. Alívio do stress e da ansiedade: O yoga enfatiza a conexão entre a respiração e os movimentos do corpo, o que pode ajudar a reduzir os níveis de stress e ansiedade. Práticas como pranayama (exercícios de respiração) e asanas (posturas físicas) e a meditação ajudam a acalmar o sistema nervoso, proporcionando uma sensação de tranquilidade e de relaxamento.
  2. Libertação de emoções bloqueadas: Durante o luto, é comum que as pessoas reprimam emoções intensas, como a tristeza, a raiva e a culpa. O yoga oferece um espaço seguro para explorar estas emoções de forma consciente e saudável, permitindo libertar tensão emocional e processar a perda de uma forma mais completa.
  3. Aumento da consciência corporal: O yoga incentiva a atenção plena em relação ao corpo e às sensações físicas. Ao praticar yoga, as pessoas podem desenvolver uma maior consciência corporal, identificar e libertar áreas de tensão física que estão relacionadas com o stress emocional.
  4. Foco no momento presente: O luto leva a preocupações com o passado (memórias da pessoa perdida) e o futuro (incertezas sobre a vida sem essa pessoa). O yoga ensina a focar no momento presente, no aqui e agora. Ainda mais: ajuda a reduzir a ruminação sobre o passado e a ansiedade em relação ao futuro.
  5. Aceitação e perdão: A prática do yoga está fundamentada em princípios como a não-violência (ahimsa), a verdade (satya) e a aceitação (santosha). Estes princípios podem ser aplicados ao processo de luto e ajudar a pessoa a cultivar a compaixão consigo mesma. Além disso, podem ajudar a aceitar a realidade da perda e procurar o perdão e a paz interior.
  6. Comunidade de apoio: Participar em aulas de grupo pode proporcionar um ambiente de apoio emocional, onde as pessoas podem compartilhar as suas experiências e encontrar conexão.

Conclusão

O luto é uma experiência emocional complexa que ocorre em resposta à perda de algo ou de alguém com quem existia um vínculo forte. Assim, a relação entre o luto e a saúde mental é significativa, pois o processo de lidar com uma perda importante pode ter impactos profundos no bem-estar psicológico e emocional de uma pessoa.

As técnicas de yoga, incluindo a meditação, se praticadas com regularidade, devido às suas características e benefícios, como por exemplo, o foco e a atenção ao corpo, à respiração e aos pensamentos, favorecem o equilíbrio mental e facilitam o processo de lidar com a perda de algo ou de alguém importante.

Bibliografia

American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425787

Stroebe, M. (2001). Gender differences in adjustment to bereavement: An empirical and theoretical review. Review of General Psychology, 5(1), 62–83. https://doi.org/10.1037/1089-2680.5.1.62

van Grootheest DS, Beekman AT, Broese van Groenou MI, Deeg DJ. (1999). Sex differences in depression after widowhood. Do men suffer more? Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. Jul;34(7):391-8. doi: 10.1007/s001270050160. PMID: 10477960.

Worden, J. W. (2018). Grief counseling and grief therapy: A handbook for the mental health practitioner (5th ed.). Springer Publishing Company.

 

Escrito por Ana Gema Hayes

Licenciada em Microbiologia (Londres) e em Psicologia (Lisboa). Frequenta o mestrado em Psicologia na Universidade de Lisboa. É yogaterapeuta e formadora nos cursos do IPYM.

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